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Prof. Dr. Silvio Luiz Lofego
Doutorado em História e Cultura pela PUC/SP, professor universitário e escritor

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A memória, a história e a identidade no fomento ao turismo

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'Infelizmente o Brasil aproveita mal seu potencial'

O Brasil ocupa um lugar modesto no quesito turismo, apenas o 26º lugar, segundo o Índice do Desenvolvimento de Viagens e Turismo 2024, do Fórum Econômico Mundial, publicado pela BBC Brasil. Não tenho dúvida, que além da tão falada falta de estrutura e outras questões socioeconômicas, a falta de valorização da memória local é um dos grandes empecilhos para que os nossos lugares turísticos sejam mais atrativos para públicos de outras regiões. A matéria da BBC destaca o crescimento do turismo nos Estados Unidos, em especial na Califórnia, e, uma das novidades para atrair visitantes é uma nova exposição sobre Star Wars, no Museu e Biblioteca Presidencial Ronald Reagan. Ou seja, eu posso conhecer vinhedos em diversas parte do mundo (inclusive mais famosos), mas o que me levaria ao Vale do Napa é justamente a oportunidades viver experiências que sejam únicas naquela região do planeta. O que fazem milhares e milhares de pessoas do mundo todo visitarem o Peru? Seria apenas a vista das Montanhas de Machu Picchu? Não, é preservação e o respeito ao passado dos povos Incas.   

Infelizmente o Brasil aproveita mal seu potencial e, ultimamente, com a onda dos Resorts caminhamos para o empobrecimento do turismo, uma vez que são passeios pautados exclusivamente no entretenimento, deixando de lado a riqueza cultural local. Há muito tempo, no trabalho com a história do Brasil observamos uma cultura de apagamento do passado ou de silêncio em relação aos grupos oprimidos, mas, para além da questão ideológica, a elite econômica está desperdiçando a oportunidade de grandes negócios na área do turismo.  Recentemente estive em Ilhéus na Bahia, cidade que conheci pelos romances de Jorge Amado e também por meio de algumas novelas.

No verão, minha opção são as praias, mas desta vez queria ir além das praias e mergulhar na história da antiga Capitania de Ilhéus, cuja sede seria São Jorge dos Ilhéus que posteriormente se tornaria a maior produtora de cacau do mundo. Para tanto, subi morros, desci ladeiras e busquei pelos lugares de memórias. Mas, apesar de um passado tão esplendoroso, quase nada parecia lembrar tal pujança histórica, conversando com moradores notei que eles mal sabiam quem foi Jorge Amado, aliás a Casa de Cultura Jorge Amado não estava aberta para visitação, do lado de fora havia uma estátua de bronze e uma placa deteriorada. Nada mais se viu a altura da obra do grande escritor e da sua literatura ambientada em Ilhéus. Fora o aeroporto e a ponte nova levam o seu nome, ao visitante não é oferecida a oportunidade de visitar cenários de Ilhéus que ajudam a compor os romances do famoso escritor.

No entanto, lamentavelmente, o descaso com a memória não é privilégio de Ilhéus, o direito ao passado no Brasil é extremamente restrito e marcado pelo patriarcado colonial. Coronéis, Barões, Condes, Viscondes etc., fundem tradição monárquica e republicana numa grande confusão ideológica, mas deixam claro que a narrativa histórica é propriedade dos senhores do capital. A luta dos vencidos é apagada ou minimizada, tornando as histórias dos oprimidos invisíveis.

Todavia, sem a emoção do passado as paisagens pouco se diferenciam e deixam de ter peso para um roteiro turístico. Roteiros para serem bons, precisam de drama, emoção, sonhos e ideais, encontrados nas lutas e tramas sociais. No Brasil, não temos isso. Raramente, e, com muito esforço de historiadores, se popularizam personagens que representam as memórias populares e que seu conjunto são reveladoras da identidade local. E, é justamente essa identidade, preservada e respeitando todas as memórias que poderia ser uma importante fonte de renda para os municípios. Lições mundo a fora não faltam.

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