Os sete mil anos de história da civilização humana não foram capazes de produzir tanto conhecimento quanto as últimas décadas, e seguramente serão precisos outros milhares para desmentir as bobagens e as incertezas nascidas deste turbilhão de descobertas.
Só no início do século vinte e registraram-se bobagens médicas a dar com pau. Algumas delas muitíssimos bem intencionadas, como a hipótese de a reposição de vitamina D ser importante para tratar e evitar muitos males. Percebendo experimentos animais, onde a suplementação reduz a inflamação, aumenta a massa óssea e inibe a proliferação de células cancerígenas, muitos pesquisadores buscaram encontrar os mesmos benefícios para os humanos.
No entanto fracassaram.
Porém, as pernas longas e os passos rápidos da desinformação não esperaram contribuíram muito com a sorte dos vendedores. Eles se entopem com o dinheiro jorrado pelas mesmas águas míticas do rio nascido no Monte Olimpo, capaz de dar imortalidade a quem beber alguns goles, antes dele formar a fonte da juventude.
Para quem prefere dar um destino mais seguro à sua poupança, a Endocrine Society (Liu ES, Davis AM, Burnett-Bowie SM. Vitamin D for prevention of disease. JAMA. Published online April 23, 2025. doi:10.1001/jama.2025.2278) sumarizou um guia prático para a suplementação de vitamina D. Em linhas gerais:
– Não previne nem trata raquitismo em crianças
– Pode contribuir para distúrbios do metabolismo do cálcio e formação de pedras nos rins.
– Usar um remédio a mais pode atrapalhar a aderência a tratamentos realmente necessários.
– A posição adotada pelas sociedades de especialidades deve sempre prevalecer sobre a dos demais práticos.
– Em relação à vitamina D, até a US Preventive Services Task Force (USPSTF) concluiu não haver evidências sequer para se dosar a vitamina entre a população norte americana adulta.
Se o seu médico pertence ao time de prescritores de “um comprimido todos os dias por vários anos quando nada está lhe incomodando no momento”, será exigido dele um alto ônus da prova.