Na semana passada passei por dois episódios interessantes em sala de aula os quais me fizeram refletir sobre o nosso atual papel de professores no processo de ensino-aprendizagem.
No primeiro episódio, um estudante me questionou durante a realização de um trabalho proposto, se um exercício que ele tinha submetido a uma IA (não especificou qual!) estava correto, uma vez que eu tinha explicado de um modo diferente em sala de aula e os resultados não batiam.
Confesso que fiquei bastante intrigado, diria até incomodado pois, em 25 anos de ensino superior lecionando matemática, nunca havia sido confrontado em relação a minha explicação, resolução de um exercício ou mesmo exposição de um assunto, em relação a um outro docente.
Não que não pudesse ter feito, até porque, certamente eu poderia errar uma resolução, afinal sou humano, mas o que de fato incomodou é pensar que o estudante possivelmente estaria confiando mais na IA do que em mim!
Dias depois, contei a história para uma outra sala, obviamente mantendo a privacidade do primeiro episódio, e os estudantes acharam normal argumentando que o grau de assertividade das IA’s, na visão deles, supera a dos humanos. Um estudante relatou, inclusive, que é muito comum solicitar as IA’s que “expliquem melhor, como se fosse para alguém completamente leigo no assunto” ou “como se fosse para uma criança” que, dessa forma, a IA responde de uma forma mais simples, palatável, bem melhor do que um livro ou um professor.
Confesso que fiquei chocado!
Refletindo sobre os episódios sou levado a crer que os processos de ensino-aprendizagem passam por um momento de total mudança, uma verdadeira revolução para a qual não estamos preparados.
Não estamos preparados metodologicamente pois não foi assim que aprendemos quando éramos estudantes, nem tampouco fomos formados dessa forma, ainda mais para sermos superados por algo que nem entendemos ao certo como funciona! Não fomos alertados quanto a eminência de tornarmos obsoletos!
Só para constar, sobre a pergunta do primeiro episódio a IA tinha errado e eu estava certo na resolução do exercício, mas o fato do estudante ter ficado em dúvida sobre quem estava correto sugere um aumento na confiança nas IA’s em detrimento com a credibilidade do professor.
Intrigado com a opinião da sala sobre o segundo episódio, questionei-os sobre a importância atual das IA’s no processo de formação dos estudantes e a maioria demonstrou ser algo fundamental, não somente para o aprendizado mas para um ensino mais personalizado, já que a IA pode explicar de diferentes formas, linguagens e até metodologias.
Como alguns poucos alunos discordaram, perguntei: quem da sala gostaria que não existisse nenhum tipo de IA e somente 19% se manifestaram nesse sentido.
Por fim, perguntei para uma IA se, na opinião dela, as IA’s poderiam deixar de existir e a resposta foi mais assustadora ainda! Mas esse é assunto para uma próxima reflexão…