No intricado mosaico social de nosso tempo, desponta uma geração cuja designação emblemática — “Nem-Nem” — escancara uma inquietante realidade: milhões de jovens que nem estudam, nem trabalham. Esse contingente, longe de se restringir a estatísticas frias, configura-se como um dos mais eloquentes desafios ao desenvolvimento econômico e à coesão social do Brasil e de tantas outras nações em desenvolvimento.
A gênese desse fenômeno repousa em múltiplos fatores. De um lado, a precariedade do sistema educacional, incapaz de oferecer trajetórias de aprendizagem que dialoguem com as aspirações e realidades do século XXI. De outro, a progressiva erosão das oportunidades de inserção laboral para jovens — resultado da automação, da informalidade exacerbada e de sucessivas crises econômicas, que tolhem o acesso ao primeiro emprego e dissipam perspectivas de realização profissional. Soma-se ainda a desigualdade social crônica, que obriga muitos jovens, especialmente mulheres, a assumir precocemente responsabilidades familiares, adiando ou mesmo inviabilizando sonhos de estudo e carreira.
Os impactos econômicos dessa geração são notórios e multifacetados. Ao permanecerem à margem das salas de aula e do mercado de trabalho, esses jovens deixam de adquirir competências essenciais, constituindo uma força de trabalho menos qualificada e menos produtiva. Tal cenário compromete não apenas a renda desses indivíduos e de suas famílias, mas também a capacidade inovadora e o potencial de crescimento sustentável do país. A perpetuação desse quadro acarreta, ainda, o aumento da dependência de programas sociais e dos índices de desalento, alimentando um ciclo perverso de baixa mobilidade social.
Além das perdas materiais, a Geração Nem-Nem revela um drama silencioso: a corrosão da autoestima e o desvanecimento das esperanças diante de um futuro incerto. Tais consequências impõem enormes desafios a gestores públicos, empresas e educadores. É imperativo conjugar esforços e criatividade para redesenhar políticas de inclusão educacional, fortalecer o ensino técnico e profissionalizante, fomentar o empreendedorismo juvenil e ampliar a oferta de empregos dignos.
Enfrentar o fenômeno Nem-Nem é, sobretudo, um compromisso que transcende o imediato: é investir no capital humano, reacender vocações adormecidas e reatar laços de pertencimento e cidadania. Uma sociedade que cuida de sua juventude lança as bases para uma economia pulsante, inovadora e equitativa, capaz de transformar desafios em oportunidades e esperanças em realidades concretas.
- Marçal Rogério Rizzo (Economista, Administrador, Educador Financeiro e Professor Universitário. Criador do canal no YouTube Camaleão Financeiro).
