A Previdência Social se consolida há décadas como um dos principais pilares da proteção do cidadão brasileiro. Mais do que um mero sistema de benefícios, representa o pacto coletivo de solidariedade entre gerações, amparando trabalhadores na velhice, na invalidez ou na ausência do provedor familiar. Exatamente por sua centralidade no contrato social, a perspectiva de uma reforma previdenciária exige atenção detida, participação ativa e reflexão apurada de toda a sociedade.
Atualmente, a necessidade de repensar as regras da Previdência é impulsionada, de maneira imperativa, pelos desafios fiscais enfrentados pelo Estado brasileiro. O crescente déficit previdenciário – a diferença entre receitas e despesas do sistema – torna insustentável a manutenção dos benefícios nos moldes atuais, pressionando as contas públicas e limitando a capacidade de investimento em políticas essenciais. Negligenciar a reforma representa adiar soluções cada vez mais urgentes, ameaçando a viabilidade econômica e a própria continuidade da proteção à parcela mais vulnerável da população.
No entanto, é preciso reconhecer que qualquer ajuste nesse regime deve ser orientado pelo compromisso ético de preservar a dignidade de seus beneficiários. A realidade é que a esmagadora maioria dos aposentados brasileiros recebe apenas um salário mínimo, valor reconhecidamente insuficiente para assegurar uma existência digna diante do custo de vida contemporâneo. Uma reforma que endureça as regras de acesso, aumente tempo de contribuição ou reduza benefícios, se não calibrada com a sensibilidade social, tenderá a aprofundar a desigualdade e a lançar milhões à insegurança no momento mais frágil de suas vidas.
A Previdência cumpre ainda um papel fundamental na engrenagem econômica nacional. Em inúmeras cidades pequenas, vilarejos e periferias urbanas, a renda dos aposentados impulsiona o comércio local, sustenta famílias e dá dinamismo à economia regional. Alterações que comprometam essa base repercutem não só na vida individual, mas em toda a marcha do desenvolvimento social e econômico.
Por outro lado, buscar equilíbrio fiscal e impedir a ampliação do déficit são responsabilidades inadiáveis, sob pena de comprometer o futuro do próprio sistema e agravar a instabilidade econômica. O desafio, portanto, é construir uma reforma capaz de harmonizar sustentabilidade financeira e justiça social, por meio do amplo diálogo, transparência e sensibilidade às desigualdades.
Preocupar-se com uma possível reforma previdenciária é, pois, zelar pelo pacto civilizatório brasileiro: defender direitos conquistados sem perder de vista as necessidades de ajustes que garantam o presente e o futuro da sociedade. Afinal, discutir Previdência é debater o próprio valor que atribuímos à solidariedade e à dignidade humana.
Marçal Rogério Rizzo (Economista, Administrador, Educador Financeiro e Professor Universitário. Criador do canal no YouTube Camaleão Financeiro)